No panteão do candomblé, Nanã é uma divindade de destaque, reverenciada como a mais sábia e ancestral entre os orixás. Conhecida como a orixá das águas paradas, da lama, da fertilidade e da morte, Nanã carrega em si o ciclo de criação e transformação, regendo a passagem entre o nascimento e o retorno ao mundo espiritual. Com raízes profundas nas culturas iorubá e no vodum do Benim, Nanã representa a ligação com a terra, com as águas paradas e com o renascimento espiritual. Sua história e seus símbolos são uma ponte que nos conecta à ancestralidade e à sabedoria do candomblé.
Origens de Nanã: A Mãe Ancestral
Nanã é considerada a mãe mais velha entre os orixás, a guardiã dos conhecimentos antigos e dos segredos da criação. Seu domínio são as águas barrentas dos pântanos, onde a terra e a água se misturam. Dessa mistura, ela cria a matéria-prima do ser humano, simbolizando o vínculo direto entre o corpo físico e o ciclo da natureza. De acordo com a tradição iorubá, Nanã participou da criação da vida ao lado de Oxalá. Enquanto Oxalá moldava os corpos com o barro, era Nanã quem sustentava a matéria primordial, dando forma e consistência à criação.
Essa participação deu a Nanã o poder sobre o ciclo da vida e da morte, fazendo dela a guardiã dos corpos após a morte e a senhora do retorno ao estado primordial. Nanã rege, portanto, o processo de transformação, em que tudo o que é criado volta à terra após cumprir seu ciclo de existência.
Símbolos e Características de Nanã
Os domínios de Nanã são os pântanos e as águas paradas, que simbolizam o mistério da criação e da renovação. Sua cor no candomblé é o lilás ou roxo, uma representação de sua aura de sabedoria e de seu poder ancestral. Nanã é representada pela espada chamada “ibiri”, feita de palha e contas, um símbolo de sua autoridade e de seu poder sobre a vida e a morte. Além de ser um objeto de autoridade, o ibiri também representa a proteção que Nanã oferece a seus filhos e devotos.
Nanã está fortemente associada ao tempo, à maturidade e à sabedoria. Como orixá da experiência e da ancestralidade, é invocada por aqueles que buscam um entendimento mais profundo da vida e das transições inevitáveis que a compõem. Embora seja vista como uma figura severa, ela guarda compaixão e proteção por seus filhos e devotos, oferecendo-lhes conselhos e forças nas fases difíceis da vida.
Nanã e o Ciclo da Vida e da Morte
Nanã exerce uma influência única sobre o ciclo da vida e da morte, regendo a passagem dos seres humanos desde o nascimento até o retorno à terra após a morte. No candomblé, acredita-se que Nanã acolhe e guia a alma humana, cuidando tanto do nascimento quanto do retorno desse espírito à terra no fim de sua jornada. Por essa razão, ela é também a orixá dos cemitérios e é associada à morte pacífica.
A relação de Nanã com a morte é vista de forma positiva, pois reflete o entendimento de que a morte é uma transformação natural e essencial. Nanã ensina que, ao final da vida, todos retornam à terra, completando o ciclo da existência. Ela é a responsável por acolher as almas em sua passagem, sendo por isso uma figura respeitada e celebrada com reverência e gratidão pelos praticantes do candomblé.
Mitos de Nanã: Sabedoria e Justiça
Um dos mitos mais conhecidos sobre Nanã é a história de sua parceria com Oxalá na criação humana. Antes de aceitar seu papel nesse processo, Nanã impôs uma condição: os seres humanos criados por Oxalá deveriam retornar a ela após a morte. Esse mito destaca o papel de Nanã como guardiã da transição entre a vida e a morte, reforçando a continuidade entre esses estados e a importância do ciclo natural de nascimento e retorno à terra.
Nanã no Candomblé Contemporâneo
Na prática do candomblé, Nanã é homenageada com rituais específicos e oferendas, que incluem alimentos como inhame e milho. Seus devotos pedem sua orientação para encontrar paz, superação e entendimento, especialmente em momentos de luto ou transição. Como orixá da terra e da água, Nanã é uma figura que nos lembra da conexão entre espiritualidade e natureza, e da importância de respeitar e entender os ciclos naturais da vida.
Nos dias de hoje, Nanã é valorizada pela comunidade afro-brasileira como um símbolo de resistência, ancestralidade e sabedoria. Ela representa o respeito àqueles que vieram antes de nós e a importância da experiência adquirida com o tempo. A presença de Nanã nos terreiros de candomblé fortalece a noção de que espiritualidade e natureza são inseparáveis, e que a vida e a morte são fases de um ciclo contínuo de aprendizado e renovação.
Conclusão
A história de Nanã é rica em simbolismo e ensinamentos. Ela é uma das figuras mais respeitadas no candomblé, representando a sabedoria acumulada das gerações e a força do feminino na criação e no cuidado com a vida. Nanã nos lembra que a vida é um ciclo contínuo e que, assim como tudo que vem da terra a ela retorna, nós também estamos inseridos nesse fluxo natural de transformação e renovação.
Compreender Nanã é entender a profundidade da espiritualidade afro-brasileira, o respeito pelos ciclos naturais e pela ancestralidade. Essa compreensão nos incentiva a viver em harmonia com nossos próprios ciclos e aceitar as mudanças e transformações que fazem parte da nossa trajetória espiritual.
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