A Umbanda é uma religião genuinamente brasileira, nascida na primeira metade do século XX, que mistura elementos de tradições afro-brasileiras, indígenas, católicas e espíritas. Sua origem é marcada por uma rica história que reflete a diversidade cultural e religiosa do Brasil. Neste artigo, vamos explorar a origem da Umbanda, seus fundamentos, práticas e os principais desafios enfrentados para conquistar seu espaço e respeito no cenário religioso brasileiro.
A Origem da Umbanda
A Umbanda tem sua origem tradicionalmente atribuída ao médium Zélio Fernandino de Moraes, que, em 15 de novembro de 1908, fundou a religião em Niterói, Rio de Janeiro. Durante uma sessão espírita, Zélio teria incorporado o espírito de um índio, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, que anunciou a chegada de uma nova religião. A Umbanda seria uma religião inclusiva, baseada no amor, na caridade e no respeito a todas as demais crenças.
Ao contrário do Espiritismo Kardecista, que não trabalhava com entidades afro-indígenas, a Umbanda passou a incluir espíritos como caboclos, pretos-velhos, crianças e entidades do povo cigano, que atuam como guias espirituais para ajudar e orientar os encarnados.
Fundamentos e Práticas da Umbanda
A Umbanda se caracteriza por uma doutrina aberta e inclusiva, refletindo a diversidade cultural do Brasil. Entre suas práticas estão rituais de cura espiritual, oferendas, cantos e danças. A religião acredita na conexão espiritual através de orações e cânticos (chamados de pontos cantados), além de valorizar a caridade.
Elementos Característicos da Umbanda
A Umbanda incorpora influências de diversas tradições religiosas:
Influência Afro-Brasileira: Embora a Umbanda compartilhe elementos do Candomblé, ela adapta o culto aos orixás, tratando-os como espíritos de luz, ao invés de divindades.
Espiritismo Kardecista: A Umbanda adota conceitos como a comunicação com os espíritos, a reencarnação e a evolução espiritual, mas inclui também espíritos de diversas classes sociais e etnias.
Catolicismo: A Umbanda mantém práticas de sincretismo com santos católicos, como São Jorge e Nossa Senhora, associados aos orixás durante o período colonial.
Religiões Indígenas: Os caboclos, representantes dos espíritos indígenas, têm grande importância, trazendo sabedoria, força e conexão com a natureza.
Entidades e Guias Espirituais
Na Umbanda, as entidades espirituais ou guias são centrais. As mais conhecidas são:
Caboclos: Espíritos de indígenas, reverenciados por sua sabedoria e força, conhecidos por auxiliar em questões de cura e proteção.
Pretos-Velhos: Espíritos de antigos escravizados, que oferecem paciência, serenidade e conselhos espirituais profundos.
Crianças (Ibejis): Representam a pureza, alegria e inocência, trazendo leveza e proteção.
Exus e Pombagiras: Agem como mensageiros e guardiões, lidando com questões mais mundanas e abrindo caminhos.
A Expansão e Consolidação da Umbanda no Brasil
A Umbanda se expandiu rapidamente a partir da década de 1930, ganhando seguidores de várias classes sociais. Sua abordagem inclusiva e seu foco na caridade tornaram a religião popular, especialmente entre as classes mais humildes.
A religião se consolidou na cultura brasileira através da música, literatura e mídia, tornando-se uma prática importante para muitos que encontraram nela uma espiritualidade acessível e caritativa. A Umbanda se manteve viva e relevante ao longo dos anos, especialmente por ser uma religião que não exige a renúncia de outras crenças.
Desafios e Intolerância Religiosa
Apesar do crescimento, a Umbanda enfrentou dificuldades, especialmente no governo de Getúlio Vargas, durante o século XX, quando religiões afro-brasileiras foram perseguidas. Os terreiros eram vistos como locais de "feitiçaria" e "bruxaria", e seus praticantes sofreram preconceito e violência.
Hoje, a Umbanda ainda enfrenta intolerância religiosa, com ataques a terreiros e discriminação por parte de grupos neopentecostais. Organizações e movimentos trabalham para proteger os direitos dos umbandistas e combater a intolerância religiosa.
A Umbanda no Século XXI: Novos Caminhos e Desafios
Nos dias atuais, a Umbanda é uma das religiões mais importantes do Brasil. Muitos terreiros têm se renovado, e o diálogo inter-religioso tem sido promovido para fomentar a tolerância e o respeito. A presença da Umbanda nas redes sociais e na internet ajudou a expandir o conhecimento sobre a religião e seus valores, alcançando um público mais amplo.
Curiosidades sobre a Umbanda
Origem do Nome "Umbanda": Alguns acreditam que o nome vem do quimbundo, uma língua africana, e significa "arte de curar", enquanto outros interpretam como "conjunto de leis divinas".
Dia da Umbanda: O 15 de novembro é comemorado como o Dia da Umbanda, em homenagem à fundação da religião por Zélio de Moraes.
Pontos Cantados: Os pontos cantados são cânticos que invocam as entidades espirituais e energizam os trabalhos. Eles misturam línguas africanas, português e tupi, refletindo a diversidade da Umbanda.
Diferença entre Umbanda e Candomblé: Embora ambas tenham raízes africanas, a Umbanda é mais sincrética, enquanto o Candomblé mantém uma estrutura mais próxima das tradições africanas originais.
Presença na Cultura Popular: A Umbanda influenciou a música brasileira, especialmente o samba, e é representada em diversas manifestações artísticas, como literatura, filmes e artes plásticas.
Conclusão
A Umbanda é uma religião que sintetiza a diversidade cultural brasileira, unindo elementos de várias tradições religiosas. Nascida como um movimento de resistência e inclusão, a Umbanda permanece viva e relevante, defendendo valores de caridade, respeito e amor ao próximo. Apesar dos desafios e da intolerância religiosa, os umbandistas continuam a divulgar os princípios dessa fé que é um símbolo da espiritualidade brasileira, marcada pela força, beleza e diversidade das religiões de matriz africana.
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